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A Essência de Sonic the Hedgehog


Anri

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Texto de Pedro Marques, tambem conhecido como Palas, no tópico "A Essência de Sonic the Hedgehog" da comunidade "Eu Adoro Jogar Sonic! EAJS!" do Orkut.

___________________________________________________________________

Vocês conhecem essa tela?

Espero que não, porque se conhecerem fica mais difícil eu me fazer

entender. Bom, caso não conheçam, podem me dizer: sabem de quem é?

E vocês provavelmente sabem.

"Esse estilo é inconfundível," vocês me dizem, "deve ser do Pablo Picasso."

E é. Mesmo nunca tendo visto esse quadro antes, vocês sabem de quem é,

tenho certeza, só pela técnica e estilo (o cubismo) usados. E também já

aconteceu de vocês escutarem uma música qualquer, talvez indicada por

amigos, e vocês pensarem ou dizerem "parece Beatles" ou "parece AC/DC"?

e, quando vocês perguntaram, não era de nenhuma dessas bandas?

Meu raciocínio está servindo pra dizer a vocês algo que, na verdade,

vocês sabem: toda obra de arte de impacto deixa uma marca, um legado na

cultura em geral que pode ser identificado de forma a se tornar a) influência em outras obras de arte e b )

ícone na vida dos que experienciaram de algum modo essa obra mesmo

quando ela não está presente. Como entender e apreciar gostos

relacionados, se tornar um fã etc. Tentar fazer parte, de alguma forma,

do universo daquela obra ou artista ou filme ou álbum. Ou... jogo.

Sonic também tem sua marca, como obra de arte que causou impacto. Existe

todo uma nuvem conceitual que circunda o Sonic - podemos reconhecer

Sonic no estilo de arte ou de músicas que ele usa. Podemos reconhecer

Sonic em lugares em que o próprio não está presente. É isso que

possibilita que nós entendamos pôsteres minimalistas e que possibilita

que brinquemos de faz-de-conta com Sonic usando donuts no lugar de

rings, porque "a ideia é a mesma". Isso é a essência de Sonic.

Eu não diria que a essência de Sonic seja os elementos sem os quais o

jogo não pode ser reconhecido como de Sonic, porém. Podem me dizer que

não é um jogo de Sonic se ele não correr e pular, mas não é isso. Não é

disso que estamos falando. A essência que discutimos aqui é mais ou

menos a seguinte - imagine uma escultura de mármore. Pietá,

por exemplo. O essencial não é o mármore, mas a imagem passada pela

escultura. Se fizermos um origami que fique com exatamente o mesmo

aspecto dessa escultura, quero dizer, uma mulher segurando um cara morto

no colo, a essência será respeitada.

Correr e pular são o mármore, os materiais com que se constróem os

jogos. Poderiam haver outros - há spin-offs que partem da mesma essência

de jogos canon do que seus próprios sucessores canon, porque o universo

onde o jogo se passa é identificável como o mesmo entre os dois. Dá pra

exemplificar ainda dizendo que a essência de Mona Lisa não é a tinta

com que foi pintada, nem a técnica usada, nem mesmo o tal "sorriso

misterioso" que todos apontam como marca registrada do quadro. Isso tem tanto de Mona Lisa quanto a tela original, mesmo não tendo nada a ver a não ser, bom, a Mona Lisa. A ideia de Mona Lisa.

Estou dizendo isso porque o universo conceitual de uma franquia de jogos

é sua principal arma para se tornar uma obra de arte respeitada.

Essência é geração de possibilidades, não limitação. Porque a verdade é

que essência não se trata de elementos para fazer um Sonic ideal, mas

sim o ponto de partida para todos os jogos que possam ser considerados

coerentes com os outros.

Mas, até agora, não defini nada. Eu só disse o que seria uma essência

sem dizer qual é. E, honestamente, eu não faço ideia porque está muito

além de qualquer coisa que eu possa apontar. É antes uma sensação (o feeling

de Sonic) do que uma conclusão racional - e ela é fruto de muita, muita

coisa. E não devemos confundir com a Palavra de Deus, no caso sendo o

Yuji Naka. Porque, em franquias de games, há um espaço de criação

situado entre os fãs e os desenvolvedores que forma a essência (vêem?

Ela é formada, não é totalmente preexistente ao primeiro jogo). Casos

extremos envolvem até fanservice, como no caso de Mortal Kombat -

adicionaram um personagem, o Ermac, só porque um glitch virou febre

entre os fãs. Mesma coisa de Pokémon, onde os desenvolvedores não

interagem tanto assim com os fãs nesse sentido, com todas as histórias

envolvendo Missingno. e tudo o mais - são os fãs ajudando a construir um

universo. Então a Palavra de Deus não tem tanto efeito quanto o aspecto

geral dos pensamentos das pessoas sobre o assunto.

Com isso tudo quero dizer que as pessoas em geral têm uma ideia sobre

Sonic mesmo que isso não seja dito por ninguém. É quase instintivo e

arraigado na mente das pessoas que conhecem a franquia. Entendem, então,

a razão pela qual o Sonic moderno é um erro, mesmo que gostemos dele?

Não?

Bem. É muito fácil dizer hoje em dia que há uma ligação entre Sonic 1 e

Sonic Adventure. É fácil traçar um paralelo entre o Sonic clássico e o

Sonic moderno, especialmente agora que temos Sonic Generations pra

explicar o que é o canon da franquia. Exceto que continua esquisito. Em

1991 - mesmo em 1998 - ninguém esperava que carros, armas, cenários

realistas, histórias mais ou menos aprofundadas e humanos pudessem

entrar no arcabouço conceitual da série. Ninguém sabia que eles

resetariam tudo - e de propósito.

A pura divisão de fanbase - alguns gostaram da mudança, outros não - já

foi um erro simplesmente porque faz com que nada mais seja inteligível

para os fãs novos. Distanciar MUITO Sonic do que as pessoas já conheciam

foi um erro porque tirou todo o universo onde ele estava e só deixou o

nome para, praticamente, iniciar uma nova franquia.

O que mais tem afetado Sonic frente ao mercado ultimamente é a absoluta

falta de sequência. Não, Sonic Generations não conseguiu restabelecer

isso só porque estabelece um canon fraco e contraditório. O problema não

é interno - é como o jogo se apresenta frente a TODO o universo da

franquia.

Depois de Sonic 3 & Knuckles veio Sonic Adventure, que resetou todo o

universo. Ele simplesmente ignorou tudo que tinha acontecido até Sonic 3

& Knuckles e foi como se tivessem começado uma franquia nova a

partir de um personagem antigo. Adicionou novos elementos, como os Chao,

o Chaos, a Tikal etc. Sonic Adventure 2 não tem nenhuma alusão ao jogo

anterior, mas é a sequência óbvia na mente dos jogadores - não podemos

dizer que não. Eu queria ter aprofundado mais nisso, mas no momento não

sei bem o que escrever.

Mas depois veio Sonic Heroes. O universo TODO mudou de novo - um exemplo

pequeno é a lua que ressurge inteira magicamente nesse jogo, mesmo com

metade destruída etc. etc. - e também o estilo de arte, de música, de

tudo. Eles fizeram o mesmo repetidamente em todos os jogos até agora.

Shadow the Hedgehog, Sonic '06, Sonic and the Secret Rings, Sonic

Unleashed e Sonic Colors. Nós não sabemos mais o que esperar de Sonic.

Antes de lançarem Sonic & the Black Knight, reconhecíamos Sonic and

the Secret Rings como parte da série principal tanto quanto Sonic '06

(ainda mais porque foi um jogo que, à época, atendia o que todo mundo

mais queria: um jogo sem excesso de personagens) e não uma série à

parte. Hoje o jogo é praticamente esquecido.

O que um eventual próximo jogo de Sonic precisa fazer é estabelecer um

canon em todo o universo, não apenas na história ou na jogabilidade.

Precisa transformar de novo Sonic em uma série.

Querem que eu prove meu ponto? Bom, tem um fenômeno engraçado na fanbase

desde Sonic 2006: nós ostentamos um hype absurdo sobre o último jogo

lançado e esquecemos o antepenúltimo.

Em 2007:

A franquia está horrível, sendo criticada de todos os lados e não

vendendo muito bem. Mas a salvação chegou! Sonic and the Secret Rings,

gente! É algo totalmente novo, é ar fresco pra Sonic!

(Comentário: O problema é que Sonic já vinha tomando novos ares frescos há anos. todo jogo tinha um novo ar fresco)

Em 2008:

Sonic and the Secret Rings teve alguns acertos, tudo bem. Mas tinha uma

história idiota e totalmente não-Sonic, além de uma transformação nova

idiota. Mas a salvação chegou! Sonic Unleashed tem partes 2D e tudo o

mais! É a redenção do Sonic!

Em 2010:

Sonic Unleashed teve alguns acertos, tudo bem. Mas tinha uma história

idiota e totalmente não-Sonic, além de uma transformação nova idiota.

Mas a salvação chegou! Sonic Colors é a redenção do Sonic!

Em 2011:

Sonic Colors teve alguns acertos, tudo bem. Mas tinha uma história

idiota, além de ser mais do mesmo. Mas a salvação chegou! Sonic

Generations tem até o Classic Sonic!

O que mais vem pela frente?

E tem um fato interessante. Essa

é a entrada de Sonic Colors no Gamerankings. A média geral dele é de

78.02%, colocando-o na honrosa posição nº 143 para jogos de Wii. E essa

é a entrada de Sonic Colors no VGchartz, que nos diz que Sonic Colors

vendeu impressionantes 1,1 milhões de unidades. Aliás, sobre isso, como

podem me explicar a razão de Sonic and the Secret Rings ter vendido mais que Sonic Unleashed,

que vendeu mais que Sonic Colors (não estou contando Sonic Generations

nisso porque qualquer dado que eu pegar vai ser preliminar e ele é um

caso diferente do qual eu vou tratar em alguns instantes), se, segundo a

fanbase, um jogo tem sido sucessivamente melhor que o outro?

Eu digo o porquê: Sonic hoje é uma franquia totalmente perdida quanto à

sua essência. É uma franquia ensimesmada, tentando se encontrar - mesmo

que os jogos SEJAM tecnicamente bons. E ela precisa de uma sequência que

a faça se colocar como portadora de um universo consistente (coisa que

não temos desde Sonic Adventure, talvez Sonic Adventure 2). Como vocês

querem me dizer que Sonic Generations já é o responsável por colocar o

universo da franquia nos eixos, só porque "explicou" a história? Quer

dizer, vocês vão provar meu ponto agora: vocês sabem o que esperar de

Sonic agora? Já têm alguma ideia de como o próximo Sonic vai ser, que

elementos vai conter? Vocês, na verdade nós não fazemos ideia. Pode vir

QUALQUER COISA, tanto que já tivemos os rumores de Sonic Dimensions que

nos traziam um novo enredo absolutamente esquisito e diferente de tudo

que já tínhamos visto.

Estabelecer um universo coerente é particularmente difícil quando tudo

está tão deturpado. Sonic Generations colocou tudo em choque e, se

querem saber minha honesta opinião, não deu certo. Porque o Sonic

clássico usado como uma versão mais jovem do Sonic moderno não pareceu

certo. Pareceu dois personagens diferentes, especialmente porque o Sonic

clássico tinha aspecto bastante diferente do que foi usado no

Generations.

O universo dos dois se chocou de tal maneira que podemos dizer que nunca

esperaríamos certas coisas em 94. Tanto porque é tudo diferente - a

proposta é totalmente diferente.

Vejam como é totalmente soa estranho jogar a Chemical Plant e depois a

Crisis City porque, enquanto nos clássicos em geral você parece estar

correndo em um lugar meio "à parte" do fundo (os dois planos

dificilmente interagem. Na verdade nunca interagem), na Crisis City não

existe distinção entre a cidade destruída em que você joga da cidade

destruída que você vê. As pontes retorcidas do fundo são as mesmas por

onde você passa. Isso é interessante, mas é absolutamente um disparate.

Não é que os clássicos fossem melhores nisso, mas, por Deus, precisamos

usar de UNIDADE aqui. E identidade também. Crisis City poderia estar em

vários jogos, com seus devidos gameplays. Chemical Plant só poderia

estar em Sonic.

E não me venham dizer "ah, mas o jogo é muito divertido e isso é o que

importa". O MÍNIMO que um jogo tem que ser é divertido. Agora, se

queremos uma experiência diferente que aproxime-o de arte, é outra

história.

Peguemos Tetris. Ele é artístico por si só no gameplay, porque aquilo

simplesmente te vicia. Era uma proposta nova na época que simplesmente

se tornou um ícone - e por que Sonic anda distante dessa arte? Porque

não tem características intrínsecas tão fortes. E o mercado ignora

fortemente todos os apelos de Sonic quanto a isso porque a franquia não

está bem estruturada e não é capaz de oferecer a experiência de jogo que

ela demanda hoje em dia.

Isso nem de longe significa que o gameplay deveria mudar etc., a

princípio. Pensaram assim em 98 e geraram uma ruptura entre seus fãs.

Porque o que o mercado procura é uma experiência de jogo que nos envolva

em seu universo e nos faça sentir como se fizéssemos parte de algo.

Skyrim é o mais recente exemplo de um jogo que fez isso perfeitamente.

Não dá pra dizer também que Sonic precisava urgentemente de uma

renovação porque o público-alvo cresceu. Isso foi o que eles pensaram.

Aí acharam que era necessário renovar tudo em Sonic - claro que essa era

a mentalidade da época e era muito difícil escapar dela. Fica fácil pra

eu, hoje, criticar o comportamento deles. Mas sabe, mentes mais

espertas teriam visto a evolução de Sonic com olhos mais atemporais e,

bom, espertos.

Comparam com Mickey. "Nossa, olha como Mickey mudou desde seu design original! Queria que Sonic ficasse igual pra sempre?"

Gente. Pelo amor de Deus. Sonic está fazendo 20 anos esse ano, enquanto

Mickey já está nos seus 80. Passou por umas 3, 4 gerações de crianças.

Certas coisas não existiam quando Mickey foi criado, tipo, sei lá, a

própria televisão, que dirá videogames. Mickey passou por tantos

momentos históricos que fica difícil comparar com Sonic - a Grande

Depressão, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã,

Woodstock, a ida do homem à lua e MUITAS coisas mais.

E também não dá pra dizer que a essência de Sonic é ele "ser rápido".

Talvez seja até isso que o Yuji Naka vai dizer se perguntarmos a ele,

mas não é isso. A experiência que os jogadores têm é diferente, mas não

acho que tinham analisado o suficiente até agora. Mas agora já entramos

em um ponto que mais tem a ver com gameplay - e o gameplay é uma parte

importante do que nos faz reconhecer Sonic.

Sonic não é rápido. Podem falar o que quiserem quanto a essa frase, mas

raciocinem comigo: a graça de se jogar um jogo não é evoluir com ele?

Não é chegar no fim do jogo e perceber que você ganhou muitas

habilidades no decorrer da sua aventura? Com Sonic é a mesma coisa, com o

estilo dos sidescrollers e uma marca única de Sonic - ele pode

ser rápido, mas quem faz com que ele de fato seja é você. Então é muito

mais interessante que o jogo ofereça desafio, te desafie a ser rápido.

Faça você tentar e tente te impedir.

Mas não vou me estender muito nesse assunto em particular. Não nesse tópico.

Acho até que não tenho mais o que falar por enquanto, então vou encerrar

dizendo que uma criança que está jogando Sonic 1 do Mega Drive pela

primeira vez, sem manual nem nada, sendo esse o primeiro jogo da vida

dela, é mais capaz de falar de Sonic do que qualquer um que tenha se

colocado a estudar o universo e tudo o mais. isso porque a criança pode

não chegar nem mesmo a saber o que é "Robotnik", "badniks", "level

design" ou mesmo "essência". Só que ela sente tudo, livre de qualquer

conceito já formado. Ela vê o conceito por trás do Robotnik, e mesmo com

isso provavelmente não vai chamá-lo de Robotnik ou Eggman, mas de "cara

mau", "velho careca e bigodudo", "aquele moço" ou sei lá. O importante é

o que ela sente em relação ao que ela está jogando. Se você tirá-la

daquele universo achando que ela vai reconhecer os mesmos elementos em

outro universo apenas vagamente parecido, vai estar errado. Foi o que a

Sonic Team fez com todos nós em 1999. Por isso temos dois Sonics, por

isso temos que fazer tópicos como esse.

Obrigado por concordarem.

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