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Retrospectiva: o Brasil na Copa de 2006


JoãoB

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Este ano completaram-se 10 anos da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Que tal relembrarmos o Brasil naquela Copa?

 

Antes do Mundial

O Brasil era apontado como grande favorito ao título. Além da seleção ser a atual campeã mundial, também havia sido campeã da Copa América de 2004, da Copa das Confederações de 2005 e se classificado para a Copa do Mundo em primeiro lugar nas Eliminatórias. O time era cheio de craques: Dida no gol, Lúcio e Juan na zaga, Cafu e Roberto Carlos nas laterais, Gilberto Silva no meio e, no ataque, estavam Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Kaká - que, juntos, formavam o "Quadrado Mágico", esquema tático do técnico Carlos Alberto Parreira (que já havia conquistado a Copa de 1994 com a seleção). No banco, também não faltavam boas opções, como Robinho e Cicinho. Nessas condições, o clima no Brasil era de total otimismo para o Hexa. No exterior, também só se falava que o Brasil iria ser o campeão. O favoritismo da seleção brasileira era tão grande que Pelé foi duramente criticado, antes do Mundial, por ter dito que achava que o Brasil não iria ganhar a Copa.

No dia 15 de maio de 2006, Parreira convocou os 23 jogadores que formariam a seleção brasileira no Mundial.

O zagueiro-volante Edmilson, posteriormente, acabou sendo cortado por causa de uma lesão no joelho. Parreira então convocou Mineiro, do São Paulo, para substituí-lo.

Quando a seleção viajou para a cidade de Weggis, na Suíça, para fazer a preparação, o que se viu foi uma grande festa: 5 mil torcedores assistiam aos treinos, que pareciam ter pouco de uma preparação efetiva. Os jogadores passavam os treinos fazendo malabarismo para o público e a comissão técnica também falava em dar "espetáculo" aos torcedores. Num desses treinos, uma torcedora invadiu o campo e agarrou Ronaldinho Gaúcho.

Ainda em Weggis, Ronaldo, Adriano e Emerson foram para uma boate, em uma noite de folga. Lá, tiraram fotos com vários fãs e, posteriormente, negaram que estiveram na boate. Só confirmaram depois que um jornal local divulgou fotos deles na boate.

Mesmo com tudo isso, a seleção continuava apontada como favorita e poucos criticavam. A revista Placar, por exemplo, fez uma matéria criticando o "Quadrado Mágico" e destacou que os  laterais Cafu e Roberto Carlos estavam em má fase em seus clubes, o que ameaçava o Hexa. Mas pouca gente ligou para isso.

Quando todos chegaram à Alemanha, veio uma polêmica: dizia-se na imprensa que Ronaldo estava gordo. Nisso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perguntou à Parreira, em uma videoconferência, se Ronaldo estava gordo mesmo. Ronaldo não gostou e retrucou que havia boatos de que o presidente bebia muito.

O presidente Lula enviou uma carta à Ronaldo, dizendo que fez à pergunta apenas para encerrar as especulações sobre as condições físicas do jogador e que tinha carinho por Ronaldo e continuava torcendo por ele. Depois que recebeu a carta, Ronaldo disse não ter mágoa do Presidente.

Enquanto isso, a torcida brasileira apostava em outro jogador: Ronaldinho Gaúcho, que chegou à Copa na condição de melhor jogador do mundo pela FIFA em 2004 e 2005. Muitos acreditavam que ele seria o principal jogador do Hexacampeonato.

 

A Primeira Fase

Toda a festa vista em Weggis se repetiu na Alemanha: os jogadores continuaram sem fazer muita atividade nos treinos, dando malabarismos, e indo para baladas durante a competição.

O Brasil estreou na Copa do Mundo no dia 13 de junho, contra a Croácia, em Berlim. A seleção jogou mal, sofreu, mas conseguiu vencer por 1 a 0, gol de Kaká (que se destacou no jogo).

Ronaldo e Adriano jogaram mal a partida, o que comprometeu o "Quadrado Mágico"; e Ronaldo foi vaiado ao ser substituído no segundo tempo. Assim, nos dias seguintes ao jogo, muitos torcedores brasileiros se perguntavam se Ronaldo iria melhorar.

Nessa Copa, o Fantástico - programa da Rede Globo - começou a fazer leitura labial dos jogadores e do técnico Parreira.  Mas Parreira não gostou disso.

No dia 18 de junho, o Brasil fazia seu segundo jogo, contra a Austrália, em Munique. E Ronaldo melhorou, assim como Adriano. Mas o time, mais uma vez, jogou mal, tomou sufoco e sofreu. Mesmo assim, conseguiu vencer por 2 a 0, gols de Adriano e Fred.

A vitória sobre a Austrália classificou o Brasil para a próxima fase com antecedência. Assim, no último jogo da primeira fase, Parreira decidiu dar uma chance aos reservas e escalou o time com cinco mudanças.  Com os reservas, o Brasil enfim jogou bem e goleou o Japão, treinado por Zico, por 4 a 1. Ronaldo se destacou no jogo e marcou dois gols. Juninho e Gilberto fizeram os outros. O jogo aconteceu no dia 22 de junho, em Dortmund.

 

Oitavas-de-Final

A boa atuação do Brasil contra o Japão voltou a fazer muita gente acreditar no Hexa. Muitos queriam que Parreira mantivesse o time no próximo jogo. Mas Robinho teve um problema muscular no coxa direita e foi vetado pela comissão técnica. Por causa disso, Parreira decidiu não manter os reservas e, no jogo seguinte, usou novamente a escalação da partida contra a Croácia. 

No dia  27 de junho, o Brasil enfrentava Gana, em Dortmund. A partir de agora, a fase era mata-mata, ou seja, quem perdesse o jogo estaria fora do Mundial. Nesse jogo contra Gana, alguns recordes foram atingidos: Ronaldo marcou um gol e, com isso, se tornou o maior artilheiro da história das Copas do Mundo, com 15 gols (feito que manteve até 2014, quando o alemão Klose chegou a 16 gols); Cafu se tornou o brasileiro com mais partidas em Mundiais, foram 19 jogos; o Brasil chegou à sua partida de número 200 em Mundiais e também atingiu 11 vitórias consecutivas (contando as 7 do Pentacampeonato, em 2002). A partida terminou 3 a 0 para o Brasil, gols de Ronaldo, Adriano e Zé Roberto. Mas o jogo não foi fácil como o placar pode fazer parecer: Gana passou boa parte da partida na área do Brasil e teve várias chances para marcar, principalmente quando o jogo ainda estava 1 a 0, só não conseguiu graças às defesas de Dida.

A imprensa mundial criticou a atuação do time. O jornal La Nacion, da Argentina, disse: "A goleada ocultou o verdadeiro Brasil. A equipe de Parreira derrotou Gana por 3 a 0 e avançou às quartas-de-final, em uma partida na qual a equipe deixou evidente graves problemas defensivos e certa vulnerabilidade",

No mesmo dia, a França venceu a Espanha por 3 a 1 e, assim, tornou-se o adversário do Brasil nas Quartas-de-Final.

 

Quartas-de-Final: A Eliminação

A imprensa brasileira tentou ser otimista para o jogo contra a França. Vários jornalistas e veículos de comunicação falavam que essa era a chance da revanche da final da Copa de 1998, em que a França ganhou do Brasil.

A seleção chegou a treinar para o jogo com o "Quadrado Mágico". Mas, por causa das críticas da imprensa mundial, Parreira decidiu, de última hora, fazer uma mudança no time: desmontou o quadrado e escalou Juninho no lugar de Adriano. Algumas pessoas já vinham pedindo essa mudança e, quando a notícia correu, muita gente ficou otimista. Mas, por outro lado, a seleção iria jogar com um esquema que nunca havia sequer treinado.

1 de julho de 2006, em Frankfurt. Brasil e França se enfrentavam. Quando o jogo começou, o Brasil até pareceu jogar de igual para a França nos primeiros minutos. Mas, depois disso, o que se viu foi uma seleção brasileira completamente apática e passiva. Os jogadores não faziam o menor esforço em campo. A França passeou e poderia até ter aplicado uma goleada, só não conseguiu por falta de pontaria e por uma boa atuação dos zagueiros Lúcio e Juan (os únicos titulares que jogaram bem). Zidane, principal jogador da França, brilhou com uma grande atuação e até deu um chapéu em Ronaldo. Aos 12 minutos do segundo tempo, veio o lance fatídico: Zidane cobrou uma falta pela direita, Henry escapou livre, recebeu a bola e chutou para marcar o único gol do jogo. A torcida brasileira no estádio gritava para Parreira colocar Robinho em campo. Mas o treinador ignorou os pedidos e só colocou Robinho aos 34 minutos do segundo tempo. No finalzinho do jogo, a mudança pareceu surtir efeito, mas o time brasileiro só deu um chute a gol, com Ronaldo, que o goleiro Barthez defendeu. O Brasil perdia o jogo e estava fora da Copa da Alemanha.

Acabava assim o sonho do Hexa.

 

A atuação horrível do time contra a França foi muito criticada. Não apenas isso: a eliminação desencadeou uma tempestade de críticas à preparação dos jogadores. Parreira foi muito criticado pelas opções de jogo que fez, por demorar a mexer no time durante os jogos e por ter permitido as baladas dos jogadores. A seleção brasileira deixou, neste Mundial, a imagem de um time sem amor á camisa.

No gol do Henry, que eliminou a seleção brasileira, Roberto Carlos ficou parado na entrada da área arrumando uma de suas meias. Por causa disso, ele foi muito criticado e até apontado como o vilão da eliminação, porque teria que ter marcado o Henry no lance. Magoado com as críticas, Roberto Carlos logo anunciou sua aposentadoria da seleção.

 

 

A revolta com a eliminação continuou: os jogadores que vieram para o Brasil, após a derrota para a França, foram vaiados na chegada ao aeroporto. Em Santa Catarina, um grupo de torcedores destruiu uma estátua de Ronaldinho Gaúcho. Extremamente criticado, Parreira foi demitido da seleção.

O site da UOL destacou sete erros cometidos pela seleção no Mundial de 2006:

 

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A inércia e os paradigmas de Parreira

AFP
Tentou colocar o maior número possível de talentos na equipe, mas para isso fez metade dos jogadores se adaptarem a funções na qual não rendiam o máximo. Durante a Copa, relutou em fazer alterações tanto de ordem técnica como tática.
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A soberba dos veteranos

AFP
O grupo tropeçou no salto alto. Roberto Carlos disse que o Brasil tinha 80% de chance de ser campeão. Ronaldo não admitiu as críticas. Ou era "sensacionalismo" ou agressão gratuita. De olho em recordes, Cafu ressuscitou críticas à seleção de 82, time que, ao menos, encantou.
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A má fase de Ronaldo e Adriano

AFP
A dupla carregou para a seleção o mau momento nos clubes. Ronaldo chegou com quase 95 kg, dando mau exemplo. Evoluiu, mas não o suficiente. Já Adriano, em vez de futebol, mostrou tanta instabilidade emocional que acabou por romper com a imprensa brasileira.
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Preparação deficiente

AFP
Festa em Weggis, treinos em marcha lenta, amistosos contra times fracos e time que, segundo Parreira, não pôde ser bem preparado fisicamente por causa do tempo apertado. A comissão técnica não deixou a seleção pronta para a Copa.
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A decadência de Roberto Carlos e Cafu

AFP
Enquanto Zidane, aos 34, ainda é capaz de brilhar, a dupla de laterais sequer pode sonhar com isso. Cafu ainda correspondeu como líder na maioria dos momentos. Não se furtava a defender o time em qualquer situação. Já Roberto Carlos só trouxe para a Copa a empáfia.
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Zidane, o genial algoz de uma geração

AFP
É "o" carrasco da seleção. Deixou Paolo Rossi, Maradona, Ghighia e cia. para trás. Em Frankfurt, mostrou mais uma vez que, além de supercraque, é jogador de decisão. Contra a seleção, dominou o meio-campo e encerra a carreira por cima.
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Ronaldinho, a decepção

AFP
A maior decepção do Mundial. Não foi sombra do jogador que é no Barcelona, onde tem parceiros rápidos - Eto'o e Messi - ao seu lado. Os próximos 4 anos serão de cobranças duríssimas para o camisa 10. Corre o risco de ficar marcado como "jogador de clube".
 
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Em 2010, Parreira, agora técnico da África do Sul, deu uma entrevista para o jornalista Cosme Rímoli às vésperas do Mundial daquele ano. Nessa entrevista, Parreira falou da Copa de 2006 e até criticou os jogadores:
 

Parreira, vamos direto ao ponto. Como é ser o culpado pelo grande fracasso de 2006?

Culpado? Do que você está falando? Não perdi a Copa de 2006 sozinho. Chega disso! A mídia vem insistindo há quatro anos. Quatro anos a mesma história! Vamos parar de hipocrisia! Tenho parte na culpa. Formei uma seleção maravilhosa que ganhou a Copa América, ganhou a Copa das Confederações vencendo a Alemanha e Argentina. E classifiquei o Brasil três jogos antes do final das eliminatórias.

Não posso fazer nada se jogadores são irresponsáveis a ponto de chegar para uma Copa do Mundo pesando 100, 101 quilos. Isso não tem cabimento. Na Alemanha eu tive nas mãos um time sem comprometimento, sem ambição, jogadores enriquecidos, não se preocupando de verdade com a competição. Atletas que não perceberam ou que esqueceram o que significa ganhar a Copa. Um time de barriga cheia. Cansado de conquistas. Se a legislação da Fifa permitisse, eu teria até tirado alguns deles do grupo.

Como assim, cortado?

Eu tive de fazer alguns cortes importantes agora na África do Sul. E fiz sem medo, sem problema algum. Sou assim, penso no grupo. Eu não pude fazer isso na Copa de 2006. Porque depois da convocação final, só sairiam jogadores por contusão. Como foi o caso do Edmílson. Eu repito que se estivesse valendo o critério de agora, os atletas desinteressados que encontrei não teriam ido ao Mundial.

Você está falando de Ronaldo, Adriano, Ronaldinho Gaúcho?

Não quero falar nomes. Todos sabem muito bem quem estava acima do peso. E o que essas pessoas fizeram para a seleção brasileira no mundial. O ser humano precisa sempre de desafio. Ter o bolso cheio, falta de vontade de conquistar é fatal. Principalmente no futebol. Não foi só o Brasil que ficou decepcionado com algumas pessoas, eu também.

Mas você não era o comandante?

Sim. Mas acontece que, por três anos e meio, o Brasil ganhou tudo. As pessoas fazem questão de esquecer a campanha maravilhosa que fizemos. Ganhamos tudo o que disputamos. Tanto que chegamos como superfavoritos a ganhar a Copa. Não tinha quem não apostasse contra o Brasil. E eu era o treinador também quando tudo estava dando certo. Acontece que fui surpreendido com o que encontrei. Fizemos o possível para condicionar os jogadores. Apostei na superação. Eram jogadores com currículo, vencedores. Só que o time fracassou.

Por que você morreu abraçado com o quadrado mágico?

Agora é fácil criticar, mas quem não apostaria em Kaká, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Adriano? Quem não gostaria de ter esses jogadores na sua seleção? O time estava montado, pronto para que eles jogassem tudo o que pudessem. Mas para isso eles deveriam estar bem fisicamente. E não foi o caso.  Não posso ser o culpado.... Não mereço.... E vou falar a verdade para você, Cosme, não carrego esse trauma comigo, não. Eu deletei. Tenho parte da culpa, mas não a culpa inteira. Assim como não fico olhando no espelho e me vangloriando por ter ganho a Copa de 1994. Tudo é um processo. Fui apenas uma peça. Mas parece que é mais fácil no Brasil crucificar um técnico. Fica mais fácil para as pessoas entenderem. Mas isso é uma mentira. Técnico nenhum ganha ou perde sozinho uma Copa do Mundo. Nenhum.

Vamos, por favor, tocar no ponto que é a desculpa para o Dunga ter trancado a concentração brasileira.

A preparação para a Copa em Weggis, na Suíça, foi uma farra. Com torcida, mulatas, escolas de samba nas arquibancadas. Não houve concentração nenhuma para o time...

Sou sincero. Não esperava aquele clima em Weggis. Aquela agitação toda não serve para um time com a responsabilidade do Brasil que vai disputar uma Copa do Mundo. Mas as pessoas precisam pensar um pouco. Existem coisas na seleção brasileira que não cabe ao técnico dizer se elas vão acontecer assim ou não. Tentei de todas as formas proteger o grupo. Fiz o meu papel. Tenho a consciência tranquila. Você me conhece há anos. Sabe que sou uma pessoa muito séria.

Você quer dizer que treinar em Weggis, com aquela arquibancada lotada, mulher invadindo o campo para abraçar o Ronaldinho Gaúcho foi uma decisão que veio acima do seu cargo. Hieraquicamente você não teria como dizer não...

É evidente que não poderia dizer não para Weggis. Nenhum técnico poderia. Basta as pessoas pensarem um pouco. É mais simples culpar o Parreira, o Zagallo. Mas às vezes eu fico assustado como as pessoas buscam explicações simplórias para as coisas. A preparação não foi a ideal. Pelo contrário até. Mas é muito pobre pensar que o Brasil perdeu a Copa pelo que aconteceu em Weggis. Foi pela falta de ambição e falta de comprometimento de jogadores fundamentais. Por pesar mais de 100 quilos...

Parreira, você foi até considerado fraco para conter as baladas. Como é que um técnico libera jogadores para farrear até as cinco da manhã em plena Copa do Mundo?

A imprensa brasileira caiu nesta desculpa fácil, infantil. E mentirosa. Ou os jornalistas não sabiam que em 2002, com o Felipão, os jogadores também não iam aproveitar suas folgas após os jogos? E voltavam de madrugada como em 2006? Em 1970 já era assim. Em 1994  também. Os jogadores sempre saíram depois das partidas e voltavam de madrugada. Eu vou participar da minha oitava Copa e aprendi uma coisa. Quando o time perde, tudo é desculpa.  Mas quanto ganha tudo estava certo. Futebol é assim. Essa folgas que todos falam até hoje sempre aconteceram. Sempre. Não fui eu quem inventei. E sei que o Brasil não perdeu a Copa por causa delas. E digo mais, grupo nenhum fica preso na concentração por 40, 50 dias. Isso não existe.

Mas até as cinco da manhã não era demais?

Era depois dos jogos. Depois os atletas dormiam o dia todo, se recuperavam. Isso sempre aconteceu. Preste atenção: essas folgas não tiveram a menor culpa na derrota da Copa. O problema eu já falei várias vezes a você: a falta de vontade, de responsabilidade, de comprometimento.

Ninguém melhor do que você para confirmar se o Roberto Carlos teve alguma culpa no gol de Henry que eliminou o Brasil da Copa de 2006. Ele estar arrumando as meias na cobrança de falta foi fatal?

O Roberto Carlos tem um metro e meio. O lugar dele nunca foi dentro da área em faltas levantadas para a área. Ele deveria estar na frente, esperando o rebote. Mas atento. Estar arrumando as meias mostrou displicência. Mas ele não deveria estar marcando o Henry, que mede o dobro dele. Houve um erro coletivo dos nossos jogadores altos. Não dele. O Roberto Carlos não merece essa culpa que querem jogar nos ombros dele. Eu era o técnico e o absolvo. Só critico a displicência. Bola em jogo não se deve ficar arrumando meia.

Todas essas explicações que você está dando agora poderiam ter sido evitadas. Eu sei que você não queria ser o treinador de 2006. Estava bem, consagrado com a conquista de 1994...

É verdade. Eu não queria de jeito nenhum. Mas acontece que o Felipão ganhou em 2002 e saiu. Eu estava fazendo um sucesso incrível com o Corinthians. O time estava realmente muito bem. O Brasil inteiro estava impressionado com a força da equipe. Foi quando o Ricardo resolveu me chamar. Falei que não, várias vezes. Não queria. Mas o Ricardo me perguntou por que eu estava recusando o melhor emprego do mundo. Dirigir a melhor seleção do mundo. Parei, pensei nos jogadores. Na importância da Copa do Mundo. Em trabalhar de novo com o Zagallo na seleção. Com o Américo Faria, que é muito meu amigo. E acabei aceitando. Sei que a próxima pergunta é se me arrependo. Não me arrependo, não. Ganhei a Copa América e a Copa das Confederações, que faltava no meu currículo.

O que você faria de diferente se pudesse voltar à Copa de 2006?

Não poderia fazer nada. Porque não saberia como os jogadores chegariam para o Mundial. E vou dizer mais. Não fico pensando nisso. Da mesma maneira que não fico pensando como consegui ganhar a Copa de 1994, depois de 24 anos de fracassos do Brasil no Mundial. E eu sou o primeiro a falar: não ganhei sozinho 1994 e não perdi sozinho em 2006.

O Dunga está certo em usar o exemplo de 2006 para trancar a seleção brasileira na concentração?

Conheço profundamente o Dunga. Não foi por acaso o meu capitão na conquista do tetracampeonato. Ele tem os seus critérios para estar agindo dessa maneira. Mas vou repetir o quanto puder que o Brasil não perdeu a Copa na preparação em 2006. Como também garanto que não será a preparação que fará qualquer time ganhar o Mundial daqui da África.

Quais são as chances da África do Sul na Copa?

Tenho uma seleção inexperiente internacionalmente. Só um jogador meu é titular na Europa. Vamos lutar muito para tentar nos classificar na primeira fase da Copa do Mundo. Será uma façanha. O grupo é dificílimo. Com México, Uruguai e França. A África do Sul vai depender demais do apoio da torcida e do espírito de superação. Vamos para a guerra. Eu confio no algo a mais que cada um terá de dar neste mundial.

O Brasil do Dunga tem chances de ser campeão?

Muitas. O Brasil tem o melhor time do mundo. Melhor. Mas não vou entrar em detalhes. Agora o problema é do Dunga. E eu desejo toda boa sorte para ele. Temos uma amizade sincera. Preciso ir embora, Cosme...

A última. O que você fará depois da Copa?

Seis meses de 'dolce far niente'. Não vou fazer nada a não ser esperar o nascimento do meu quarto neto. Depois vou pensar. Tentei parar de trabalhar como treinador e virar um administrador. Mas o trabalho é dobrado. Acredito que posso continuar como técnico. Ainda tenho muita energia.

Pensa ainda na seleção brasileira?

Não. Meu ciclo na seleção do Brasil se encerrou em 2006.  Tchau, Cosme...

 

E chegamos ao fim da retrospectiva. Digam aí tudo que vocês quiserem sobre o Brasil na Copa de 2006. 

 

Editado por JoãoB
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A única coisa que eu lembro dessa Copa é a ajeitada de meia do Roberto Carlos e a minha mãe xingando o Ronaldo de gordo :lol: 

Editado por JF CHmaníaco
Pra não verem a pérola :P
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Foi a primeira copa que eu assisti de verdade. Me lembro do Roque Júnior estar no álbum de figurinhas, mas não ter sido convocado, lembro que na final eu estava no shopping e vi a cabeçada do Zidane, e comecei a rir porque estava torcendo para a Itália. Lembro desse jogo do Brasil, quando a França fez o gol eu até machuquei o pé no sofá. 

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Me lembro muito bem dessa Copa. Havia um favoritismo muito grande do Brasil, muita gente achava que a seleção já era campeã antes mesmo de jogar. Talvez até os próprios jogadores. Uma coisa que frustrou muito foi que o Brasil jogou muito mal a Copa inteira - só jogou bem mesmo contra o Japão, sendo que ali entraram os reservas.

Eu respeito o Parreira, mas discordo de algumas coisas que ele disse na entrevista. A preparação não foi boa, não dava pra treinar direito naquele oba-oba todo e isso se refletiu no time em campo. Acho que um dos motivos da derrota foi sim a preparação. Pra passar numa prova, você tem que se preparar direito antes.

Outra coisa que frustrou muito foi o Ronaldinho Gaúcho, todo mundo esperava que ele ia dar show e ele passou apagado demais, não fez nenhum gol e nenhuma boa atuação.  

Acho que essa seleção de 2006 até tinha bons jogadores, mas não houve conjunto, não formaram um time.

Depois que o Brasil perdeu para a França, decidi torcer por Portugal, que vinha fazendo um ótimo Mundial e tinha o Felipão como técnico. Mas aí Portugal também perdeu para a França.

A Alemanha bem que podia ter ganhado essa Copa, mas teve muito azar, tomou dois gols da Itália no finalzinho da prorrogação na semifinal. Isso quando todos já esperavam os pênaltis. Até hoje acho que, se aquele jogo tivesse ido para os pênaltis, a Alemanha teria vencido, até porque os alemães estavam mais preparados para as penalidades. Se não ganhou, ao menos a Alemanha deixou nessa Copa a semente do time que iria ser campeão em 2014.

Mas o que eu mais lembro dessa Copa foi toda a repercussão que teve a cabeçada do Zidane na final. Aquilo foi muito mais comentado do que o título da Itália, dos gols, dos jogadores que se destacaram, de tudo.

Todo mundo só falava disso, todos queriam saber o que foi que o Materazzi disse pra forçar o Zidane a dar a cabeçada.  E o Materazzi disse que xingou a irmã do Zidane.

O Zidane estava se despedindo do futebol. Que despedida horrível: expulso e com derrota na final. Mas, apesar disso, ele foi um dos maiores jogadores que eu já vi jogar.  

 

 

 

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23 horas atrás, JF CHmaníaco disse:

A única coisa que eu lembro dessa Copa é a ajeitada de meia do Roberto Carlos e a minha mãe xingando o Ronaldo de gordo :lol: 

:lol: 

"Volte a me chamar de gordo." :P

23 horas atrás, Ramyen Chapatin disse:

Foi a primeira copa que eu assisti de verdade. Me lembro do Roque Júnior estar no álbum de figurinhas, mas não ter sido convocado, lembro que na final eu estava no shopping e vi a cabeçada do Zidane, e comecei a rir porque estava torcendo para a Itália. Lembro desse jogo do Brasil, quando a França fez o gol eu até machuquei o pé no sofá. 

Por que você machucou? Vc chutou o sofá de raiva?

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Uma coisa que marcou muito pra mim também foi que, no dia que o Brasil perdeu para a França, o SBT exibiu pela primeira vez o episódio "A História de Don Juan Tenório", do Chapolin. A exibição desse episódio aconteceu aproximadamente duas horas antes do jogo. Como esse episódio fala muito de mortos, acho que ele ter passado justo naquele momento foi uma espécie de "aviso" do que iria acontecer com a seleção brasileira na partida. O Mestre Maciel, colunista do site Turma CH (atual Portal Chaves), também disse isso.

 

Editado por JoãoB
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Em ‎15‎/‎10‎/‎2016 at 21:07, Ramyen Chapatin disse:

Sim. Eu não queria que o Brasil ganhasse, mas fiquei com dó do Roberto Carlos.

E por que você não queria que o Brasil ganhasse?

Lembro que todo mundo criticou o Roberto Carlos por ficar arrumando a meia em vez de marcar o Henry, o Roberto Carlos ficou marcado por isso.

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