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Entrevista com Helena Samara em 2004


FooCH

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achei na CHBR o link para esta entrevista com a Helena Samara feita em 12/07/2004, para o site Mofolândia... acho q merece um tópico próprio, principalmente pq mta gnt desconhecia e nunca deve ter lido, assim como eu... ;)

Entrevista - Helena Samara - Dubladora

Helena_baroli.jpg

Helena Samara e Gilberto Barolli

Com uma carreira de 50 anos na dublagem, nesta entrevista à Mofolândia, Helena Samara comenta a evolução do seu trabalho, os bastidores dos estúdios e relembra como eram produzidas algumas das vozes mais marcantes da TV brasileira.

Mofolândia - Você ficou conhecida pelas vozes marcantes da Endora (a mãe da Feiticeira), Vilma (esposa de Fred Flintstones), Bruxa do 71 (do Chaves) e, mais recentemente, Yetta (avó da Nanny). Como começou em dublagem? Sempre foi dubladora?

Helena Samara – Eu era bancária e tanto eu quanto minha irmã, Elvira Samara (já falecida), nos interessávamos pela área artística. Íamos sempre aos programas de auditório da Rádio Tupi e da América, sempre na esperança de conseguir alguma participação. Até que um locutor, Mário Guimarães, que apresentava um programa de defesa do consumidor chamado Cartório de Protestos e me encaixou para fazer algumas locuções. Eu tinha 16 anos na época. Minha irmã, mais velha um ano, também ingressou no rádio-teatro no Conto das 17 Horas, da Rádio Tupi. Eu ia sempre buscá-la e aí, um dia, a diretora do horário da tarde, Sarita Campos, que costumava convocar jovens para o elenco, me disse: “para você não ter que esperar sua irmã, vou contratá-la”. Foi assim que comecei como atriz em várias novelinhas de rádio e fazia outras locuções à tarde, que também tinha receitas, música e entrevistas do início dos anos 50. Aí surgiu a TV Tupi com suas estrelas Vida Alves, Lolita Rodrigues e Hebe Camargo e eu e minha irmã fazíamos apenas algumas aparições.

Mofolândia – Qual foi sua primeira aparição na TV?

Helena Samara - Minha primeira aparição não foi com a voz, mas com a mão. Durante uma entrevista com o compositor baiano Dorival Caymmi, aparecia uma vinheta com uma mão que virava páginas de um livro. Essa mão era a minha! Daí, os jovens atores mudaram para a Rádio Nacional e para a TV Paulista, que era na rua da Consolação, em São Paulo, e os mais experientes em TV ficaram na Tupi. Foi lá onde participei do teledrama Três Leões, novela ao vivo que ia ao ar à tarde. Também fiz a novela A Pequena Órfã, escrita por Líbero Miguel. Interpretava uma mulher malvada como a Endora, uma governanta má que batia numa garota. O diretor me fazia bater de verdade na criança, que ficava com manchas vermelhas no corpo.

Mofolândia – Helena Samara é nome artístico?

Helena Samara – É. Eu me chamo Lia Kalme. O sobrenome é de origem letoniana. Sou mineira de Belo Horizonte, mas fui criada em São Paulo. Minha mãe tinha uma fábrica de chapéus na região da rua 25 de Março, no centro. Um dia, olhando pela janela, vi o letreiro de uma loja chamada Tecidos Samara, e disse: “mãe, quando eu trabalhar em rádio, vou me chamar Lia Samara. Eu tinha 14 anos, mas já sabia que queria ser artista e ela achava que era um sonho impossível. Como na época em que comecei tinham muitas Lias, me deram o nome de Helena Samara. Hoje estranho quando alguém me chama de Lia.

Mofolândia – Você ficou muito tempo na Nacional? Quando começou a dublar?

Helena Samara – Aos poucos, a Nacional foi perdendo força e já não pagava mais nem os salários atrasados. Meu contrato venceu e não foi renovado. Por outro lado, estavam precisando de atores experientes para dublar filmes, que era feito no Estúdio Ibrasom (que depois seria a AIC e atualmente, BKS).

A essa altura, minha irmã trabalhava na Rádio São Paulo e, nas suas folgas, também fazia dublagens lá. Ganhávamos mais que os trabalhos na TV, mas não as dublagens não eram constantes. Mas eu precisava trabalhar e eles souberam que eu sabia datilografar, então me contrataram porque os dubladores não batiam à máquina e os dubladores precisavam dos roteiros prontos. E assim segui por 13 anos na área administrativa e na dublagem. Um dia, houve um teste para Os Flintstones e já era quase certo que o papel da Vilma ficasse com a dubladora Sonia Moreira. Mas construí uma voz para a personagem e fiz apenas três falas quando o representante da Screen Gems Columbia me aprovou. Fiz toda a série que passou no Brasil, mas não dublei os dois longa-metragens que passaram no cinema. E aí vão mais de 40 anos, não consigo mais fazer aquela voz fina da Vilma...

Mofolândia – Esse foi seu primeiro personagem consagrado e que lhe deu muita visibilidade. E a sogra malvada Endora, de A Feiticeira, como surgiu?

Helena Samara – Quem fazia a Endora era a Márcia Real e depois a Jessy Fonseca, que ficou até a metade do segundo ano da série.

Daí, fiz o teste e passei. Se você ouvir a atriz que interpretava Endora, Agnes Moorehead, ela tinha uma voz sofisticada e ao mesmo tempo, metida. Então, eu tinha que criar uma voz pernóstica e assim estava criada a Endora brasileira. Logo depois surgiram trabalhos como o da Maureen, de Perdidos no Espaço, (cuja versão original acabou de sair em DVD), da Tenente Uhura, de Jornada nas Estrelas. Teve, no final dos anos 60, a Cinnamon Carter, de Missão Impossível, mulher de voz sedutora e que me abriu muitas portas também para fazer comerciais de TV.

Mofolândia – Como você conciliava a carreira artística e as dublagens com a vida pessoal?

Helena Samara – Eu me casei com 19 anos com Manrico de Camilo, que na época era estudante de odontologia. Só depois que ele se formou é que nasceu minha filha, Fátima de Camilo, que hoje é psicóloga. Quando eu estava na TV Paulista, tinha que levá-la e dar mamadeira nos estúdios. Depois, contratei uma babá sem o consentimento do meu marido. Ele me pediu para eu abandonar à carreira, mas não desisti e resolvi me separar. Coincidiu com o período em que minha mãe faleceu e eu fiquei muito desorientada, esquecia os textos na TV Nacional. Hoje, moro sozinha com minha gata siamesa Shiva no bairro do Cambuci, em São Paulo. Mas continuo dublando muitas séries, novelas e filmes.

Mofolândia – O público na rua reconhece sua voz?

Helena Samara – Fiz muitos comerciais, inclusive um para a Brastemp em que só aparecia a minha voz que dizia: “compra uma Brastemp, compra vai!”. Nos anos 70, lembro que fui comprar um vestido branco para o Ano Novo na Rua Direita, no centro da cidade. Eu perguntei: “você tem um vestido menos decotado, mais discreto”? Qual não foi minha surpresa quando a vendedora não prestou a atenção ao pedido, mas à voz e me reconheceu como Endora!. Aliás, recentemente também aconteceu novamente. Eu não dirijo e uso muito ônibus. Era hora do rush e subi num ônibus lotado, não tinha cadeira para eu sentar. Daí, comecei a conversar com o cobrador e ele também me reconheceu como a Bruxa do 71, do Chaves. Virei motivo de papo sobre dublagem no ônibus inteiro!

Mofolândia – Como você chegou ao SBT para dublar a Dona Clotildes da série Chaves?

Helena Samara – Quando larguei o escritório do estúdio de dublagem, fui visitar alguns colegas dubladores no SBT, que ficava ainda na Vila Guilherme, nos anos 80.

Ali, brincando com os colegas, o diretor Marcelo Gastaldi, que também faz a voz do Chaves, me convidou para fazer a voz da Bruxa do 71. Até hoje, é uma personagem que me dá muito sucesso. Depois disso, trabalhei no escritório do estúdio de dublagem Megasom, na Vila Mariana por oito anos. Lá fiz poucos trabalhos porque atuava mais na administração.

Mofolândia – Ao longo desses anos, muitas coisas engraçadas devem ter acontecido nos sets de filmagem. Você lembra de algum em particular?

Helena Samara – Nos anos 70, Gilberto Barolli, dublava e era roteirista de A Princesa e O Cavaleiro. Daí, ele me chamou e disse que eu iria fazer um papel bem importante no desenho e inesquecível.

Quando peguei o roteiro vi que eu iria fazer uma cabra e ele apareceu no estúdio às gargalhadas, não conseguia se concentrar vendo minha surpresa. Não me fiz de rogada: berrei como uma verdadeira cabra em todas as cenas que ela aparecia.

Mofolândia – Como eram os salários dos dubladores em relação aos atores de novelas?

Helena Samara – Os salários dos dubladores nunca foram maravilhosos, ganhávamos por anel (trecho de 20 segundos de um filme, série ou desenho) e não era muito. Havia muitos atores da época, como Lima Duarte, Olney e Older Cazarré, Tony Ramos e Denis Carvalho, que complementavam sua renda fazendo dublagens. Hoje, ganhamos por hora, mas não chega aos pés de um ator contratado da Rede Globo, por exemplo. Nosso salário equivale ao de um ator iniciante de novela das seis ou sete da noite.

Mofolândia – Você continua fazendo dublagens?

Helena Samara – Sim, nunca parei. Fiz longas, como o Sweet Charity, um musical clássico em que dublei a Shirley MacLaine. Fiz muitas novelas, entre elas a dona Pastora, de Pedro Escamoso, uma secretária em Beth a Feia (ambas da Rede TV!).

No ano passado, dublei a Raquel, de Paixões Ardentes (exibida pela Rede TV!). E também acabei de dublar a Yetta, a avó aloprada da Nanny (no Canal 21), na Dublavídeo. Apesar de ser uma senhora de idade, ela é uma mulher engraçada e usei meu lado humorista ao lado da Cecília Lemes (que dubla também a Chiquinha, do Chaves), que faz a Nanny, a babá de voz esganiçada que é apaixonada pelo patrão. Agora, em 2004, dublo a personagem Angelina, da novela portuguesa Olhos D’Água (exibida às 8h da manhã, na Rede Bandeirantes) e a venezuelana Gata Selvagem (16h30, na Rede TV!).

Mofolândia – O que mudou na dublagem ao longo desses seus 50 anos de trabalho?

Helena Samara – Acho que houve avanços técnicos que trouxeram benefícios para o dublador, como o fato de poder fazer seu trabalho individualmente. Você pode corrigir mais facilmente, sem ter que incomodar o dublador que está contracenando com você ou se desconcentrar. Isso é importante, sobretudo na novela Olhos D’Água, em que às vezes há a tendência de adotar o jeito português de falar. Hoje também há muita cena de sangue e guerra. Antes, havia mais filmes que exigiam interpretação, emoção. Os novos dubladores se preocupam muito com o sincronismo e esquecem de atuar, ou seja, valorizam mais o aspecto técnico que a interpretação. Mas especialmente nos filmes, vejo que os diretores convidam artistas para dublarem personagens como forma de atrair bilheteria. Ter desenhos e filmes dublados faz parte da história da televisão brasileira e é uma prática que todos devem estimular. Até porque grande parte da população prefere dublagem à legenda, atraindo mais audiência. A dublagem faz parte da cultura do brasileiro e agrega valor à produção.

Helena Samara foi a voz brasileira de Maureen Robinson (Perdidos no Espaço), Endora (2ª voz em A Feiticeira), Bruxa do 71 (Chaves), Vilma Flintstone (Os Flintstones), Tenente Uhura (1ª voz em Jornada nas Estrelas), Barbara Benn (Missão Impossível - clássica).

http://www.mofolandia.com.br/mofolandia_no...lena_samara.htm

Editado por FooCH
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Muito Boa a Entrevista

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Realmente foi uma maravilhosa entrevista...valeu pelo post FooCH!!!!

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Boa demais mesmo! Já viram ela dublando essa Yetta no seriado "Nanny"? Espetacular!! Melhor que o original!! Ela é realmente genial =)

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