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Chaves chegou na Netflix no dia 11 de Agosto de 2025


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Para quem quiser ler a matéria, aqui o texto na íntegra:

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Quando João Victor Trastano nasceu, Chaves já não tinha episódios inéditos há 18 anos. Aos 26 anos, porém, ele é fã de carteirinha do seriado mexicano, e não está sozinho. Passaram-se quatro décadas e meia, mas o sucesso de Roberto Gómez Bolaños, o eterno Chespirito, segue em alta. Administrador do Fórum Chaves, portal com milhares de seguidores e fãs apaixonados nas redes sociais, o jovem refletiu sobre o fenômeno: “Roberto sempre disse que fazia humor ‘para todos’. É o segredo”.

Atualmente disponível nos streamings Globoplay, Netflix, Prime Video e SBT+, além dos canais SBT e Multishow na televisão, Chaves surpreende pela sua audiência: está entre as 10 séries mais assistidas de todas as plataformas, competindo com produções inéditas e recentes. Os limites do sucesso também extrapolaram a própria produção. A série Chespirito: Sem Querer Querendo, que conta os bastidores do seriado, foi sucesso absoluto na América Latina, ao ponto de figurar entre as 5 mais assistidas do mundo na plataforma HBO Max. Já a exibição imersiva Chaves: A Exposição, está recebendo centenas de milhares de visitantes pelo Brasil.

A já clássica comédia criada e protagonizada por Roberto Gómez Bolaños narra o dia a dia de um menino órfão e ingênuo, conhecido como Chaves (interpretado pelo próprio Bolaños), que vive dentro de um barril em uma vila simples. Sempre faminto, especialmente por um sanduíche de presunto, ele se envolve em trapalhadas com os amigos e vizinhos, resultando em mal-entendidos, discussões, muito humor físico e diálogos recheados de bordões.

Na vila, convivem figuras marcantes como Chiquinha (María Antonieta de las Nieves), travessa e esperta filha de Seu Madruga (Ramón Valdés), um viúvo preguiçoso que vive fugindo do aluguel; Quico (Carlos Villagrán), mimado e chorão, e Dona Florinda (Florinda Meza), sua mãe superprotetora; o Professor Girafales (Rubén Aguirre), professor das crianças que paquera Florinda; Dona Clotilde, a “Bruxa do 71” (Angelines Fernández); Senhor Barriga, o dono da Vila, e seu filho Nhonho (ambos interpretados por Édgar Vivar), além de Jaiminho, o Carteiro (Raúl “Chato” Padilla), que prefere “evitar a fadiga”.

Mas, afinal, o que fez o seriado ultrapassar gerações e conquistar uma audiência tão fiel? Para entender este fenômeno, além do super fã, João Victor, o Estadão conversou com a doutora Thaís Leão, integrante da Sociedade Internacional para o Estudo do Humor Luso-Hispânico e professora da Universidade Federal de Mato Grosso, e Luiz Fernando da Silva Jr, professor do curso de cinema e audiovisual da Escola Superior de Publicidade e Marketing (ESPM).

Streaming e ambiente digital

Após décadas de sucesso na televisão, o seriado ressurge agora como potência nos streamings. O que pode explicar essa virada? Parte do êxito estaria atribuído às redes sociais, já que, mesmo antigo, Chaves nunca deixou de ser utilizado como elemento de humor no ambiente virtual brasileiro. Frases, imagens e referências dos personagens da vila se tornaram memes e foram difundidos na internet, funcionando como uma publicidade gratuita do seriado.

Luiz Fernando acrescenta que as próprias plataformas de streamings investem nessa divulgação massiva nas redes, visando atrair o público: “As plataformas também estão apostando. Para manter essa atenção, essa visibilidade, usando as técnicas que a gente tem hoje. Então tem meme pra cima e para baixo, sendo divulgado com as plataformas envolvidas, que procuram gerar engajamento. A técnica de comunicação mais atual no digital vai atrair o público mais jovem” completa.

Thaís Leão considera que a popularização online pode levar novos espectadores até a série, mas, apesar do impulso, é o seu conteúdo que os mantém assistindo: “Ele (Chaves) ganha uma nova ressignificação com essas gerações no TikTok, nessas novas tecnologias, nessas novas linguagens, por estar muito presente. Mas ele não se mantém por conta disso. Ele se mantém muito em função do que a série traz de conteúdo e da forma”, argumenta.

Repetição, humor e nostalgia

De 1973, quando foi lançado, até os dias de hoje, Chaves ainda consegue arrancar risos dos telespectadores. Apesar do humor repetitivo, com frases e ações determinadas para cada personagem, os fãs parecem não enjoar e assistem aos mesmos episódios diversas vezes. Para o professor Luiz Fernando, o programa é atemporal e tem um humor universal, com certa simplicidade e acessível para diversos públicos: “Por isso que ele faz sucesso em tantos lugares diferentes do mundo. Você não localiza aquilo como uma piada que só funciona em Acapulco, por exemplo. Pode funcionar em qualquer lugar, e funciona”.

Já a professora Thaís Leão considera o protagonista um “pícaro”, figura literária astuta e ardilosa, que sofre exclusão social e lida com a fome frequente. Ela menciona outros exemplos na cultura brasileira, como João Grilo e Chicó, personagens do clássico O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Um pícaro como Chaves faz o público rir dos seus perrengues, ao mesmo tempo em que cria simpatia pela sua história, transformando-o em um fenômeno comunicacional: “Ultrapassa não só o tempo, mas também a fronteira da própria espacialidade em que ele foi construído, tem uma circulação transnacional”.

Essa simpatia colabora para uma construção de memória afetiva e nostalgia no público, fazendo com que o espectador não canse das narrativas e piadas. A partir das suas vivências, João Victor relata como a série construiu memórias em sua vida pessoal: “É a nostalgia dos finais de tarde junto do meu tio e da minha avó. É a nostalgia da hora do almoço antes de ir à escola. São os momentos vividos 15 anos atrás e os momentos de riso há 2 semanas, rindo com os amigos”.

Luiz Fernando também descreve um processo de “herança”: por já conhecerem, gostarem e confiarem no teor do seriado, adultos e idosos o apresentam ao público mais jovem e infantil, mantendo o seu legado vivo. Ele enfatiza que esse processo tem até mesmo repercussões econômicas dentro da cultura: “Ganhou o pai, ganhou o avô e vai levar a criança para assistir. A gente chama isso de monetização da nostalgia. São formas de você ampliar as possibilidades com uma mesma propriedade intelectual, em cima de um mesmo personagem, da mesma marca, da mesma obra. Você consegue trazer mais retorno financeiro, de visibilidade, imagem, e vai criando outras formas de uma obra se expandir”.

Por fim, na intertextualidade de Chaves, Thaís Leão ainda observa uma série de paródias a referências humorísticas clássicas, sejam em tom de homenagem ou desconstrução. O seriado traz elementos inspirados no icônico humor de Charlie Chaplin e nas suas obras do início do século XX; em O Gordo e o Magro, dupla de humoristas do cinema mudo que fez história na Era de Ouro de Hollywood; e em Cantinflas, grandioso e importante ator e humorista mexicano.

Identificação e personagens

Chama atenção a força da identificação que o público do Brasil construiu com uma série produzida no México, mas há explicação para o fenômeno: “Ali (na vila) há uma representação de aspectos culturais que dizem muito respeito à nossa vivência e tem contato muito fortes com grande parte do que nós latino-americanos vivemos”, diz Thaís Leão. “Juntamente com a questão da pobreza, da desigualdade, e como que o Chaves lida com tudo isso a partir do improviso, tem um elemento que é a chave para quem vive aos trancos e barrancos, que é a solidariedade” , completa.

A identificação com os próprios personagens também é fator primordial. Luiz Fernando os define como caricaturas de pessoas comuns: “Uma criança muito ingênua, que é o Chaves. Um cara mais malandro, como o Seu Madruga. Uma mais autoritária, a Dona Florinda. A criança mimada, que é o Kiko. Você olha em volta e encontra essas pessoas, aí se aproxima, vai gerando afinidade”, argumenta. Essas personalidades diversas e fortes causam provocações e conflitos na trama, mas isso também colabora para a identificação do público.

Thaís analisa que a convivência entre os personagens lembra muito uma relação familiar: “Você tem conflitos, mas você tem essa rede de solidariedade que permeia o ambiente. Em muitos episódios, como o de Natal, você tem uma suspensão do conflito por ações conjuntas. Para quem trabalha humor, é muito importante que esses conflitos sejam amenizados, suspensos no momento da festa, da reconciliação”, analisa.

A vila

A construção do cenário e ambientação é mais um fator de aproximação com a audiência brasileira. A vila do Chaves, por si só, não entrega que a série se passa em outro país, já que o seu estilo arquitetônico pode ser observado no próprio Brasil: “Podia ser no Rio de Janeiro, em São Paulo. Pode ser em qualquer lugar. Eu posso me enxergar também naquela vila e conectar com aquilo”, explica o professor Luiz Fernando.

Em sua análise, Thaís Leão traz um contexto histórico que explica o que possibilita essa visão em quem assiste, revelando a genialidade presente na ambientação e nos cenários do seriado. “A vila foi construída muito com base na ideia de um México que está sendo urbanizado na década de 70. Um espaço simbólico da cidade do México ligado à classe trabalhadora, ligado à pobreza, mas também essa classe trabalhadora vivendo junto, mesmo que se vendo de forma distinta, como a Dona Florinda, que se vê de fora dessa classe, mas vive ali no meio da ‘gentalha’”, aponta.

Fonte (sem paywall): https://archive.ph/FgWAt

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