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Renan Calheiros não é mais presidente do Senado e é absolvido de novo!

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VEJA

Repórter : Policarpo Junior

Desde que a Operação Navalha foi deflagrada, o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, tem sido instado a explicar suas relações com o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama. O senador tem dito que são apenas conhecidos, mas são mais do que isso. Em 1990, o empreiteiro bancou sorrateiramente a campanha do senador ao governo de Alagoas e, embora tenha terminado em derrota, a eleição serviu como marco de uma amizade sólida. Sólida mesmo, a ponto de o empreiteiro freqüentar a residência oficial do presidente do Senado. A situação de Renan Calheiros, porém, é mais complicada do que sua intimidade com Zuleido Veras. É que o senador tem outro amigo explosivo no submundo da empreita que, tal como Zuleido, freqüenta sua casa e, tal como Zuleido, é seu dileto amigo. O amigo de alta octanagem é Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior, uma das maiores do país. Nos últimos anos, Gontijo, mais do que um amigo, tem se apresentado no papel de mantenedor do senador. VEJA apurou os laços financeiros entre os dois:

• O lobista da Mendes Júnior coloca à disposição do senador um flat num dos melhores hotéis de Brasília, o Blue Tree. O flat, número 2 018, é usado para compromissos que exijam discrição. Está em nome de Cláudio Gontijo.

• O lobista da Mendes Júnior pagou, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília para o senador. O imóvel tem quatro quartos e fica em uma área nobre da capital federal. O aluguel saía por 4.500 reais.

• O lobista pagava 12.000 reais mensais de pensão para uma filha do senador, de 3 anos de idade. A pensão foi bancada por Cláudio Gontijo de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado.

• O lobista ajuda nas campanhas do senador Renan Calheiros e nas de sua família. Já ajudou o próprio senador, seu filho e seu irmão.

Tal como Zuleido, Gontijo opera nas sombras. Oficialmente, ele é assessor da Diretoria de Desenvolvimento da Área de Tecnologia da Mendes Júnior há quinze anos. Na realidade, sua função é defender os interesses da empresa junto ao governo. A Mendes Júnior constrói aeroportos, metrôs, linhas de transmissão de energia e estradas. Tem fortes interesses no governo. Hoje, participa, entre outras obras, de um consórcio responsável pela construção do aeroporto de Vitória e fechou vários contratos com a Petrobras para a construção de tubulações e manutenção industrial. Tal como a Gautama, a Mendes Júnior também orbita no Ministério de Minas e Energia, do qual foi demitido o ministro Silas Rondeau. Foi a partir desse ministério que Gontijo estendeu sua área de influência a outros setores do governo nos últimos anos. Com a ajuda de Renan, chegou a indicar nomes para cargos públicos, como o do engenheiro Aloísio Vasconcelos Novais, que assumiu a Eletrobrás quando Rondeau deixou o cargo para ser ministro de Minas e Energia.

O senador Renan Calheiros caiu nas graças do lobista. Nos últimos três anos, a pedido de Renan, o lobista pagou os 4.500 reais de aluguel do apartamento de quatro quartos. No imóvel, até recentemente, morava a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha de 3 anos, que recebe a pensão do lobista. Todos os meses, a jornalista ia ao escritório da Mendes Júnior, no 11º andar do Edifício OAB, situado na Asa Sul, onde pegava um envelope branco, timbrado, com o endereço, os telefones e o nome de Cláudio Gontijo. O envelope era identificado com suas iniciais – MV. Dentro havia sempre 16.500 reais. Era o aluguel mais a pensão de 12.000 reais para a criança. VEJA teve acesso ao contrato de locação do imóvel. Nele, Gontijo assina como fiador. Seguindo orientação do senador, o lobista contratou uma empresa de vigilância para garantir a segurança de Mônica Veloso e sua filha. A direção da Mendes Júnior diz que isso tudo é "questão pessoal" de Gontijo e que desconhece esses pagamentos. Procurada por VEJA, Mônica Veloso preferiu não se manifestar.

Cláudio Gontijo também cedia ao senador um flat no hotel Blue Tree, em Brasília. A VEJA, ele confirmou que conhece Renan Calheiros. "Ele é meu amigo, nada mais." Ele diz que classifica como maldade as insinuações de que freqüenta a casa do senador e que, por interesse, lhe presta favores. "Parei de ir à casa dele desde que ele virou presidente do Senado para evitar problemas", disse Gontijo. O lobista admite que entregava dinheiro para quitar as despesas de Mônica Veloso, mas ressalva que o dinheiro não era nem dele nem da empreiteira. De quem era? "Só posso dizer que não era meu", responde. O senador Renan Calheiros diz que ele mesmo era o dono dos recursos. "O dinheiro era meu", afirmou. Se era seu, por que o lobista fazia a intermediação? Nesse ponto, Renan diz que não falará mais sobre um assunto que está sob segredo de Justiça. Renan ganha 12.700 reais brutos por mês como senador, que complementa, nas palavras dele, com "rendimentos agropecuários". Pensão e aluguel, como se viu anteriormente, somam 16.500 reais. A vida íntima do senador Renan Calheiros diz respeito apenas a ele próprio. Não é um assunto público. Mas, quando essas relações se entrecruzam com pagamentos feitos por um lobista, o caso muda de patamar.

O lobista Gontijo nega que a Mendes Júnior tenha se beneficiado da proximidade com Renan Calheiros para conseguir contratos com o governo: "Não temos nenhuma obra sendo executada no governo federal". Lembrado de que tem contratos com Infraero, Petrobras e Eletrobrás (todas áreas sob influência do senador), o lobista retruca: "Para nós, isso é obra privada". Perguntado sobre o flat que empresta ao senador, encerra a conversa: "Não vou responder mais nada". O lobista também ajudou a família Calheiros em campanhas políticas. Nas eleições de 2004, sempre por trás da contabilidade oficial, contribuiu com as campanhas de Renan Calheiros Filho (filho do senador), de Robson Calheiros (irmão do senador) e de José Wanderley (afilhado político do senador). Certa vez, o lobista chegou a reclamar que os pedidos financeiros de Renan Calheiros estavam exagerados. "Cláudio, arruma aí, pede emprestado", solicitava o senador, de acordo com a versão contada pelo lobista a um interlocutor que conversou com VEJA. Não se sabe o tamanho da ajuda que o lobista deu. Renan Filho foi eleito prefeito de Murici, Robson Calheiros ganhou a suplência de vereador e o médico José Wanderley não se elegeu. No ano passado, emplacou como vice do tucano Teotonio Vilela, governador de Alagoas.

As relações empreiteiro-familiares do clã Calheiros também envolvem o deputado Olavo Calheiros, outro irmão de Renan. No âmbito da Operação Navalha, a polícia captou um diálogo entre Zuleido e Fátima Palmeira, diretora da Gautama, em que eles conversam sobre uma emenda que teria sido oferecida pelo deputado Calheiros, que beneficiaria a empresa. "É o seguinte: aqui, o Olavinho passou aquela emenda que ele tem para a gente", diz Zuleido. "Empreiteiro é bravateiro, quer vender prestígio", justifica Olavo Calheiros, informando que a emenda foi apresentada há dez anos. Pode ser mesmo uma bravata, mas o deputado Olavo Calheiros sempre atuou como uma espécie de abre-alas para empreiteiros amigos. Zuleido, quando tinha dificuldades para se encontrar com ministros para tratar de licitações de obras e liberações de recursos, acionava Olavo Calheiros. O deputado marcava audiência com o ministro e levava o empreiteiro na bagagem. Dois ex-ministros de Lula relataram a VEJA que receberam Olavo Calheiros em audiências às quais ele, de surpresa, apareceu acompanhado pelo empreiteiro Zuleido Veras.

As investigações sobre a Gautama de Zuleido Veras também mostram que os tentáculos do empreiteiro chegavam ao Tribunal de Contas da União. Em uma conversa captada pela polícia, Zuleido insinua ter acesso privilegiado a pelo menos dois ministros do TCU – Augusto Nardes e Guilherme Palmeira, parente de uma personagem importante do escândalo, Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama. Renan Calheiros também é íntimo de Guilherme Palmeira. Em 2004, Palmeira chegou a informar o senador a respeito do curso do processo que tramitava no Tribunal Superior Eleitoral sobre a cassação do então governador de Alagoas, Ronaldo Lessa – assunto que interessava a Renan Calheiros. A VEJA, o ministro Guilherme Palmeira confirma que é amigo de Renan, conhece Zuleido Veras, mas diz que nunca atuou em processos de interesse da Gautama. "Ao menos que eu me lembre, não!" Conta que chegou até a receber algumas vezes Fátima no gabinete, mas encaminhou-a ao relator dos processos. O ministro, de fato, tem memória fraca. Ele foi relator do processo número 008 887/2002, que apura irregularidades num contrato da Gautama com a prefeitura de Porto Velho. Consultado por VEJA, mas sem conhecer o caso concreto, o advogado Roberto Caldas, membro da Comissão de Ética Pública da Previdência, diz que a relação financeira entre um parlamentar e um lobista de empreiteira é condenável. Diz ele, falando em tese: "Evidentemente, esse tipo de relação é inaceitável para alguém que ocupe um cargo público".

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só mais um

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Tratar o assunto como "mais um assunto incômodo" é errado... :lingua:

Antes de todos o considerarem culpados, deixem a PF investigar, e se necessário for, o MP irá denunciar, e terá o julgamento de mérito. É errado essa precipitação de considerar os envolvidos culpados. Fazer uma imagem de culpado antes mesmo do final das investigações é um grande erro.

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Hélio, o senador não é do PT, não precisa defendê-lo. :P

Eu acho que o Renan Calheiros não tem mais moral para continuar na presidência do Senado. Aliás, esse governo é cheio de ligações suspeitíssimas, de gente que usa a máquina pública para atitudes nepotistas e clientelistas, a começar pelas ligações suspeitas do filho do presidente Lula com a Telemar.

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O que mais me incomoda é que daqui a dois meses, quando já tiver tudo resolvido e os responsáveis absolvidos o povo vai esquecer de tudo e nas próximas eleições irão votar nos mesmos.

:closedeyes:

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Ah, Edu... eu não estou defendendo, eu só acho que vcs se apressam em considerar culpado as pessoas ligadas ao PT, quando nem foram investigadas direito ainda... é preciso ter parcimônia, ser justo. Todos são inocentes, até que se prove o contrário, como diz a lei.

Um caso que posso citar, é o de um diretor de colégio, acusado de estupro. Todos o consideravam culpado, sua mulher o largou, seus filhos e familiares se distanciaram, seus amigos o repudiavam, perdeu o emprego, apanhou... e no final, foi provado que ele era inocente, mas o estrago na sua vida já estava feito. Como remediar? Depois, não tem jeito. A única saída é tratar os acusados como acusados, não como culpados. Deixe que a Justiça se encarregue do julgamento. :closedeyes:

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Muito interessante...

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Não sei se este caso que o Junior citou, é mesmo que ocorreu aqui em São Paulo. Neste caso, 3 irmão japoneses, foram acusados de atentado violento ao pudor, por uma das mães, que havia tido um desentendimento com um deles.

Logo a imprensa sensacionalista os acusaram sem mesmo darem chance dos irmãos se defenderem, tempos depois fora provada a inocência destes só que já era tarde demais, e pelo que fiquei sabendo 1 deles acabou se suicidando, outro virou mendigo na praça da sé e o terceiro não sei o que aconteceu.

Por garantia constitucional, como o Junior citou, ninguém é considerado culpado, sem a sentença condenatória transitada em julgado.Mesmo que venha a ser culpado, em uma outra eleição será eleito pelo povo, assim como ocorreu com o Collor.

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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, by Juarez Soares. Tão desviando o assunto do tópico, uma coisa é o caso "Escola Parque" ou outros casos graves de calúnia.

Outra coisa é a relação pra lá de esquisita do Renan Calheiros com esses empreiteiros, aliás, o próprio Renan já admitiu a amizade com um dos empreiteiros. A revista Veja não ia fazer uma matéria dessas de capa irresponsavelmente, sem provas.

A verdade é que no Senado e no Congresso são poucos os homens de bem, todo mundo tem o rabo preso.

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Só que cabe ao Poder Judiciário, julgar se ele é culpado ou inocente, a veja tem todo o direito de informar a coletividade, mais isto deve ser feito com responsabilidade, se ele prova a sua inocência, o dano feito é irreparavel.

Como cidadão, todas as provas indicam que realmente ele tem ligação com este empreiteiros, mais como futuro operador do direito é meu dever analisar isto com mais calma, já que são vários os princípios da Carta Magna que garante a ele a presunção da inocência.

Vamos aguardar as investigações da PF.

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Por Rodrigo Rangel e Hugo Marques

Na Bahia começou a investigação que originou a Operação Navalha e o volume de irregularidades descobertas no Estado é tão grande que foi aberto um novo inquérito, por ordem da ministra Eliana Calmon, do STJ, em 10 de maio. O inquérito recebeu o número 561 - BA e em seu despacho a ministra trata essa nova investigação como Operação Octopus. Somados os fatos já descobertos pelas duas operações - Navalha e Octopus -, tanto a situação quanto a oposição no Estado têm muito o que explicar. A começar pelo governador Jaques Wagner, do PT.

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Ele é citado pelo dono da Gautama - a empreiteira apontada como distribuidora de propinas para a obtenção de obras superfaturadas -, Zuleido Veras, em três conversas grampeadas pela PF. Nesses diálogos, Zuleido falava sobre obras no município de Camaçari, a cidade onde o governador começou sua vida pública, como sindicalista no Pólo Petroquímico. No dia 8 de maio de 2006, Zuleido telefona para o celular do prefeito Luiz Carlos Caetano, também petista e apontado como o herdeiro político de Wagner, com o intuito de marcar uma reunião, e usa o nome do governador. Quem atende é um assessor, de nome Ilário. Diz o relatório da PF: "Zuleido se identifica como sendo Zuleido da Gautama, diz que quer falar com (o) prefeito (....). Zuleido diz (que) quem forneceu o número 9174- 9174 foi Jaques Wagner." "Eu não passei telefone nenhum para o Zuleido. Isso foi bravata dele para chegar no prefeito", diz o governador. No dia seguinte, 9 de maio, Zuleido estava em Camaçari. Foi recebido pelo prefeito e, de acordo com a PF, nesse encontro teriam acertado as obras da Gautama no município.

Logo depois do encontro, Zuleido telefonou para seu filho Rodolpho. Nessa conversa, ele mencionou o nome do governador duas vezes. Registra o relatório da PF: "Zuleido fala 'eu tinha botado ontem essa reunião com JW... então, aconteceu hoje ao meio-dia." Ele descreve ao filho o que conversou com Caetano: "Aí, eu disse... eu tenho duas coisas para falar com você, a primeira é que o (inaudível) tá do nosso lado e quer resolver ... e a segunda, aí eu conversei até com Jaques." "É certo que o JW sou eu, mas esse encontro não aconteceu", diz Wagner. Em outro telefonama, Zuleido diz ao filho que o prefeito de Camaçari teria lhe dito: "Não saio daqui sem isso ser resolvido... Tenho um compromisso com você... você tá vendo aí o meu problema." De fato, o acerto entre Zuleido e o prefeito deu certo. O dinheiro para a Gautama saiu rápido. Em 16 de junho de 2006, a Prefeitura de Camaçari celebrou com o Ministério das Cidades o Contrato de Repasse nº 563035, no valor de R$ 9,7 milhões, dinheiro usado para pagar a empreiteira de Zuleido. A obra, para urbanização da cidade, acabou levando o prefeito para a cadeia. Wagner admite que conhece há muito tempo o empreiteiro, e que chegou a recebê-lo no Palácio do Planalto quando era ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. "Recebi como recebi vários outros empresários", explica. Em novembro do ano passado, Wagner, então governador eleito, foi visitado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Passearam numa lancha de três suítes pela Baía de Todos os Santos. A lancha é de Zuleido. Durante a semana passada, o governador disse que não sabia quem era o dono da lancha.

Queria uma emprestada para passear com Dilma e pediu ajuda ao publicitário Guilherme Sodré, ex-marido da sua atual mulher, Fátima, e atual marido da chefe do cerimonial do governo da Bahia. Na quinta-feira 24, ele disse ter se lembrado de que durante o passeio de lancha fora informado de que o barco pertencia a Zuleido. "Não me recordo muito bem desse dia, pois estávamos no barco, com sol e umas cervejinhas..."

Certamente a oposição na Bahia deve ter comemorado quando o nome de Wagner foi interceptado na boca de Zuleido. Ex-ministro e agora governador, Jaques Wagner teve ascensão meteórica no cenário político baiano e hoje vê seu nome lembrado até para a sucessão do presidente Lula. O fato é que com os primeiros resultados da Operação Octopus também a oposição precisará, assim como Wagner, encontrar explicações. O que a PF já sabe atinge o governo de Paulo Souto, ligado ao senador Antônio Carlos Magalhães e antecessor de Wagner no governo da Bahia. Se no caso do empreiteiro Zuleido, o esquema baseava-se em fraudar grandes obras de infra-estrutura, agora o esquema, como descreve a ministra Eliana Calmon, "dedica-se à fraude em processos de licitação na área de prestação de serviços". No relatório ao qual ISTOÉ teve acesso, a PF aponta como chefe desse esquema o empresário Clemilton Andrade Rezende, 64 anos. Ele é dono de um grupo de empreiteiras acostumadas a trabalhar para governos estaduais e municipais. Além de Clemilton, há um outro empresário no topo da investigação: Marcelo de Oliveira Guimarães, ex-guarda de banco com 59 anos. Em despacho do dia 29 de novembro do ano passado, quando as investigações ainda não haviam se desmembrado, a ministra Eliana Calmon inclui Marcelo "no primeiro nível da organização", ao lado de Zuleido e de Clemilton. Marcelo, além de empresário, tem atuação política clara. Ele foi deputado estadual pelo PFL e presidiu por oito anos o Esporte Clube Bahia, o time de futebol mais popular de Salvador. Suas empresas atuam basicamente na área de segurança privada e nem todas estão em seu nome. Ele é apontado pela PF como o verdadeiro dono de firmas como a Seviba, de segurança e vigilância, e a Organização Bahia, de serviços de limpeza e locação de mão-de-obra.

Durante a administração de Paulo Souto, entre 2003 e 2006, só a Seviba recebeu mais de R$ 70 milhões do governo estadual. De acordo com o site Contas Abertas, de 2002 a 2007, em levantamento para ISTOÉ, três das empresas do grupo receberam R$ 38,5 milhões do governo federal, sempre na Bahia. O grupo, segundo a PF, começa suas fraudes antes das licitações. Com a conivência de servidores públicos, as empresas de Clemilton e Marcelo obtêm as certidões negativas necessárias para disputar os contratos. Depois, ganham as concorrências, dirigidas para favorecê-las. "Os fatos aqui apurados são de extrema gravidade e demonstram ações que estão a minar os já combalidos cofres do INSS e de secretarias de governo", escreveu Eliana Calmon no seu despacho de 29 de novembro de 2006. "Pelo que se apurou até o momento (...), trata-se de um grupo que pode ser classificado como praticante de crime organizado, seja pelas características (...) de atuação, seja pelo envolvimento de segmentos estatais representados por várias autoridades", prossegue ela. Os documentos do inquérito obtidos com exclusividade pela reportagem de ISTOÉ revelam que, dentre as autoridades investigadas está, por exemplo, o presidente do Tribunal de Contas da Bahia, Antônio Honorato de Castro Neto, indicado para o órgão pelo senador Antônio Carlos Magalhães. Há pelo menos dois nomes do governo de Paulo Souto: o diretor administrativo da Secretaria de Saúde, Hélcio de Andrade Júnior, e o chefe de gabinete da mesma pasta, Wedner Souza da Costa.

Depois de vencer as concorrências, as empresas de Clemilton e Marcelo costumavam fazer doações eleitorais a políticos do grupo de ACM. Em 2004, por exemplo, a Seviba doou R$ 27 mil para a campanha do senador César Borges à Prefeitura de Salvador. Nas eleições do ano passado, a empresa fez doações para Paulo Souto, candidato à reeleição, e para Rodolpho Tourinho, candidato derrotado ao Senado. Outra empresa de Marcelo, as Organizações Bahia, também deu dinheiro para a dupla. As empresas, todas elas alvo da investigação, são as maiores doadoras das campanhas do próprio Marcelo Guimarães, que perdeu a disputa por uma vaga na Assembléia Legislativa no ano passado, e de seu filho, Marcelo Guimarães Filho, reeleito para o segundo mandato de deputado federal.

Marcelo Guimarães, também conhecido pelo apelido de "Tiririca", sempre foi ligado a ACM. Ainda guarda boa relação com o senador. Mas, do ano passado para cá, com a eleição do petista Jaques Wagner, seu grupo começou a se bandear para o lado dos novos donos do poder. O deputado federal Marcelo Filho largou o DEM de ACM e aderiu ao PMDB, cujo diretório baiano é controlado com mão de ferro pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Sobre Marcelo- pai, Geddel diz: "Eu não sou inimigo, mas também não tenho relações próximas." E busca se precaver: "Se houve alguma conversa com meu nome, foi sem minha autorização."

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Quando o empreiteiro Zuleido Veras foi preso na manhã do dia 17 de maio, a Polícia Federal apreendeu no escritório do dono da Construtora Gautama uma pasta de couro preta. Dentro dela, havia uma lição de anatomia tão detalhada e significativa quanto o famoso quadro de Rembrandt, do mesmo nome.

No caso, era a anatomia de um crime: o mapa da fraude que desviou dinheiro de obras rodoviárias no Maranhão. Junto com a tabela do superfaturamento (confira a reprodução na próxima página), os policiais encontraram documentos que detalham como Zuleido fatiava pessoalmente a propina obtida nas obras fraudadas. Anotações feitas à mão numa folha mostram, através de codinomes, os porcentuais e as cifras da corrupção.

O mais surpreendente, contudo, surgiu após o cruzamento desses dados com as transcrições das escutas telefônicas. A Polícia Federal acredita que a papelada não deixa dúvidas quanto à responsabilidade do governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT). Nos papéis de Zuleido, os maiores porcentuais de propina vão para alguém citado como o "Chefe Maior". Para saber quem seria ele, a polícia recorreu às gravações. No dia 27 de março deste ano, por exemplo, a PF grampeou uma conversa de Gil Jacó Carvalho Santos, diretor financeiro da Gautama, com Ricardo Magalhães da Silva, funcionário da empresa. Eles discutiam sobre a liberação de uma medição de R$ 500 mil para a empreiteira. "RICARDO diz que o sobrinho do CHEFE MAIOR ligou para VICENTE (Vicente Coni, diretor da Gautama no Maranhão) cobrando a medição e diz que o dinheiro está disponível", registra a transcrição da fita. Os grifos feitos em maiúsculas são do próprio documento da Divisão de Contra- Inteligência Policial da PF, ao qual ISTOÉ teve acesso. As investigações mostraram que a intermediação com a empreiteira era feita por dois sobrinhos de Jackson Lago:

Alexandre de Maia Lago e Francisco de Paula Lima Júnior (conhecido como Paulo Lago). Na quarta-feira 23, Alexandre se recusou a depor e no dia seguinte foi a vez de Francisco de Paula fazer o mesmo.

A ministra Eliana Calmon, do STJ, decidiu, depois disso, mantê-los presos.

Em entrevista ao editor Rodrigo Rangel, de ISTOÉ, o governador negou ter recebido propina da Gautama. "Nunca recebi nem um presentinho deles", afirmou Lago. "A minha conta bancária é aberta a quem quiser. E também a minha declaração de renda." Jackson Lago confirma que, quando visita Brasília, encontra-se sempre com seu sobrinho Francisco, mas diz que não sabia que Alexandre, seu outro sobrinho, costumava viajar a Brasília nem que se encontrava com Francisco nessas ocasiões. "Eu não tenho por que ser o "chefe" deles", diz o governador. "Eles não têm relação funcional comigo. Eu não sou chefe hierárquico deles."

As investigações da PF demonstram que o esquema da Gautama começou no governo anterior, de José Reinaldo Tavares (PSB), e continuou no de Jackson Lago. A contabilidade paralela de Zuleido prova que ele consistia basicamente em burlar a medição das obras. Na verdade,cada uma delas tinha uma metragem menor do que a que aparecia no contrato. A diferença entre o que era efetivamente construído e o que era pago gerava o lucro irregular da quadrilha.

Há itens de algumas obras superfaturados em 100%. As gordas propinas serviam para azeitar a máquina de corrupção e garantir que os fiscais do Estado fizessem vista grossa para os metros superfaturados pela empreiteira.

A propina era paga todos os meses, em cima de cada adulteração de medição de obra. Em abril último, a quadrilha contabilizou R$ 2,6 milhões em medições fantasmas. Os papéis mostram que o "Chefe Maior" ficou com R$ 213 mil desse valor, ou 8% do valor arrecadado. O segundo maior beneficiário é chamado de "Gordão". Nas escutas da PF, esse era o apelido do secretário de Infra-Estrutura do Maranhão, Ney Bello, tido como o destinatário, em abril, de R$ 53 mil, 2% do total desviado. Segundo a polícia, o responsável pela divisão da propina paga às autoridades do Maranhão era o diretor Vicente Coni.

Na pasta de Zuleido há anotações feitas por Vicente, sobre os "compromissos" que ele detalha em outra página. "Pensei em parcelar, mas, depois de ouvi-lo, acho imprudente pagar parcelado", diz o diretor da Gautama em uma mensagem endereçada a Zuleido. Na página seguinte, Vicente registra a divisão da propina. A pasta de couro não continha apenas a lista dos pagamentos de abril. Em março, a Gautama levou mais R$ 2,9 milhões com as medições irregulares. O "Chefe Maior" abocanhou, então, R$ 236 mil, e "Gordão" embolsou R$ 59 mil.

O esquema da Gautama mantinha conexão em todas as pontas do governo maranhense que podiam criar dificuldades para a liberação dos recursos para as obras fraudadas. O fiscal do Estado Sebastião José Pinheiro Franco, que poderia vetar os repasses, foi identificado pela PF como sendo o "Baixinho" da lista da propina. Em abril, "Baixinho" embolsou R$ 14,8 mil. Há personagens na lista que a PF ainda não conseguiu identificar. Aparecem com os codinomes de "Quantum" e "Zeus". Há ainda R$ 15 mil para pagamento de "Getons" (sic). A PF desconfia que tenha relação com jeton e seja uma referência a pagamento de parlamentares responsáveis pela aprovação de emendas ao Orçamento para a Gautama.

A quadrilha fraudava quase todos os componentes das obras que executava no Maranhão. Zuleido aprovava cada medição irregular, antes de pagar a propina. Os itens mais caros eram superfaturados. Para disfarçar, diminuía-se o valor da medição nos mais baratos.

Na tabela de Zuleido, a diferença entre o que a Gautama realmente executou e o que ela recebeu num trecho de pavimentação chega a R$ 1 milhão. Em obras de "escavação, carga e transporte de materiais", o superfaturamento chega a R$ 706 mil. Então, no item "reaterro e compactação manual", a quadrilha dá um desconto de singelos R$ 452. A tabela é clara ao revelar a mutreta. Numa coluna, aparece a "quantidade real".

Em outra, a "quantidade medida". No item "transporte de materiais de jazida", por exemplo, a quantidade real é R$ 102 mil, mas a quantidade medida sobe para R$ 209 mil. Na história das relações entre empreiteiras e governos, a medição superfaturada é um clássico. No caso da Gautama com as autoridades do Maranhão, a novidade é ter documentado cada centavo do esquema.

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Convenhamos, como se a Veja fosse idônea... não preciso mencionar os recentes casos de manipulação da Veja e da Globo. Ou preciso? :lambada:

Deixem a PF cuidar disso, não tem pq ficar fazendo CPI, se de uma maneira ou de outra vai chegar na PF. Que comecem logo com a PF, oras.

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Como disse o Pedro Simon, estamos caminhado para um estado de desgovernabilidade...

Logo, chegará um ponto em que nós vamos roubar alguém e dizer: Se os políticos podem, por quê eu não?

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Ué... no governo do teu partido foi pior. :assobiando:

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E o que tem a ver o Renan Calheiros e o Jackson Lago com o PT ?

Que paranóia ! Deve ter sido o Dirceu que deixou todos os petistas assim.:rolleyes:

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  1. BruchaLia
    BruchaLia respondeu ao tópico de Raphael em Fórum Único Chespirito
    Esse é o ponto bom dessa exibição Só que por estarem seguindo a lista também eles não tão se importando se um ep passou pela última vez ano passado ou no último mês de exibição..
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    Medeiros CH respondeu ao tópico de marujita em Exibições Internacionais
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    Eu acho... respondeu ao tópico de Eu acho... em Fórum Único Chespirito
    Excelente compilado, Cláudio Esse assunto das turnês ainda é muito nebuloso, principalmente nessa questão das datas. Acho importante documentar e organizar isso porque foram nas turnês que alguns eventos importantes aconteceram, como o conflito entre a Maria e a Florinda e o início do relacionamento dela com o Chespirito. As datas também ajudam a entender a ordem e a distância entre as gravações. Não imaginava que 1975 tinha tido tantas apresentações, por exemplo, mas aí faz sentido ter episódios naquele ano que parecem ter sido gravados em bloco. Às vezes sinto falta dos sites CH que abrigavam toda essa informação que hoje está dispersa nas redes sociais e nos fóruns. Ainda bem que pelo menos o ChespiritoWeb segue de pé.
  5. Jaciinto
    Jaciinto respondeu ao tópico de Raphael em Fórum Único Chespirito
    Mas eles já exibiram outros episódios que não passaram nas afiliadas, esses episódios noturnos vem da Matriz mesmo.

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